"Alguém me tocou. Porque eu senti que de mim saiu poder." Lucas ( 8, 46)
Quando lidamos com o cuidado do outro (na pastoral, na terapia, no quarto de hospital, em casa...), corremos o risco de nos perdermos do que somos. Lembram da mulher que tocou Jesus? Ela encheu-se de coragem e o tocou, nem queria que ele percebesse. Mas percebeu. Jesus diz aos seus discípulos: "Alguém me tocou!". Ele sentiu que havia lhe "saído poder". Quando entramos em contato com a dor de uma outra pessoa, podemos ser "roubados" em nossas energias vitais. E não é por maldade que isso acontece, é por fome, fome de vida, de atenção, de carinho. Nos tocam, nos olham, falam conosco e estão em busca de forças para continuar -- nessa dinâmica, se não tivermos cuidado, nossa identidade se funde com o outro, com sua dor, sua história. É preciso saber que a dor do outro não é a nossa. É como experimentar um sapato para ver onde aperta e depois devolve-lo. Já temos nossos próprios sapatos, nossos calos e nossas dores pessoais para dar conta. O teólogo alemão Dietrich Bonhoeffer, enquanto estava preso durante a segunda guerra, escreveu um poema belíssimo em que termina poetizando "Quem sou eu? As perguntas solitárias se riem de mim. Seja quem for, Tu me conheces, sou teu oh Deus!"
Quem sou eu?
Quem sou eu? Dizem-me muitas vezes
Que saio da minha cela, sereno, risonho e seguro,
Como um nobre no seu palácio.
Quem sou eu? Dizem-me muitas vezes
Quando falo com os meus carcereiros livre,
Que saio da minha cela, sereno, risonho e seguro,
Como um nobre no seu palácio.
Quem sou eu? Dizem-me muitas vezes
Quando falo com os meus carcereiros livre,
amistosa e francamente,
Como se mandasse eu.
Quem sou eu? Dizem-me também
Que suporto os dias de infortúnio
Com impassibilidade, sorriso e orgulho,
Como alguém acostumado a vencer.
Sou realmente o que os outros dizem de mim?
Ou só sou o que eu mesmo sei de mim?
Intranquilo, ansioso e doente,
Como um pássaro enjaulado respirando com dificuldade a vida,
Como se me oprimissem a garganta,
Faminto de cores, de flores, de cantos de aves,
Sedento de boas palavras e de proximidade humana,
Tremendo de cólera diante da arbitrariedade,
Agitado pela espera de grandes coisas,
Impotente e temeroso pelos amigos na infinita distancia,
Cansado e vazio para orar, pensar e criar,
Esgotado e disposto a despedir-me de tudo?
Quem sou eu? Este ou aquele? Serei hoje este, amanhã outro?
Serei os dois de cada vez? Diante dos homens um hipócrita
E diante de mim mesmo um desprezível e queixoso débil?
Ou talvez o que ainda resta de mim se assemelha
A um exército derrotado que se retira em desordem
Sem a vitória que considerava segura?
Quem sou eu? As perguntas solitárias se riem de mim.
Seja quem for, Tu me conheces, sou teu oh Deus!
Como se mandasse eu.
Quem sou eu? Dizem-me também
Que suporto os dias de infortúnio
Com impassibilidade, sorriso e orgulho,
Como alguém acostumado a vencer.
Sou realmente o que os outros dizem de mim?
Ou só sou o que eu mesmo sei de mim?
Intranquilo, ansioso e doente,
Como um pássaro enjaulado respirando com dificuldade a vida,
Como se me oprimissem a garganta,
Faminto de cores, de flores, de cantos de aves,
Sedento de boas palavras e de proximidade humana,
Tremendo de cólera diante da arbitrariedade,
Agitado pela espera de grandes coisas,
Impotente e temeroso pelos amigos na infinita distancia,
Cansado e vazio para orar, pensar e criar,
Esgotado e disposto a despedir-me de tudo?
Quem sou eu? Este ou aquele? Serei hoje este, amanhã outro?
Serei os dois de cada vez? Diante dos homens um hipócrita
E diante de mim mesmo um desprezível e queixoso débil?
Ou talvez o que ainda resta de mim se assemelha
A um exército derrotado que se retira em desordem
Sem a vitória que considerava segura?
Quem sou eu? As perguntas solitárias se riem de mim.
Seja quem for, Tu me conheces, sou teu oh Deus!
(Dietrich
Bonhoeffer)