quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Oração é conexão
(Vera Cristina Weissheimer)





Oração é uma conexão, um fio condutor com um Poder que é Superior, uma força que perpassa a história humana e os seus destinos. A oração autêntica transforma a realidade, um encontro do qual não saímos como chegamos. Para os dias cheios em que nos convencemos não ter tempo para uma prece, Martim Lutero aconselha orar por mais tempo. Sobre isso escreveu: “Atualmente estou tão ocupado que não posso passar menos de quatro horas por dia na presença de Deus”. Há dias em que precisamos pedir como profeta Isaías: “Fortalecei as mãos frouxas, e firmai os joelhos vacilantes” (Isaías 35.3).
Rubem Alves chega a dizer que as pessoas estão procurando tanto por terapia por que desaprenderam a fazer suas orações. “Falam sobre outras coisas, 10 mil coisas. Não sabem que a alma deseja uma só coisa, cujo nome esquecemos, por traz de nossa tagarelice está escondido o desejo de orar. Muitas palavras são ditas porque ainda não encontramos a única palavra que importa”, escreve ele. Viktor Frankl já escreveu sobre isso afirmando que a terapia e a fé caminham de forma parceira, uma pretende curar a alma e a outra salvá-la. Citando o poeta T.S.Elliot, Rubem Alves dá nome ao que, segundo ele, esquecemos: “temos conhecimento do movimento, mas não da tranquilidade; conhecimento das palavras e ignorância da Palavra”. As pessoas desaprenderam a se ouvir e a ouvir o que o silêncio é capaz de trazer. Jesus, por exemplo, retirava-se para lugares solitários, para ali buscar o encontro com o Pai em oração (Lucas 5.16). Em geral, as pessoas andam desaprendendo a ir ao encontro de si mesmas e de Deus.
Há um texto no livro de Gênesis em que Deus diz a Abraão: “Saia da sua terra, do meio dos seus parentes e da casa do seu pai e vá para uma terra que eu lhe mostrarei” (Gênesis 12.1). Quando olhamos essa passagem dos textos sagrados no original hebraico, encontramos a frase: Lech (vai) Lechá (a ti mesmo). O rabino Nilton Bonder escreve de forma primorosa sobre esse texto em seu livro Tirando os sapatos – uma espécie de diário de viagem pelos caminhos de Abraão. Para o rabino, a tradução mais verdadeira desse texto seria: Vai até ti mesmo. Ir até nós mesmos é uma tarefa que nos leva até desertos e infernos pessoais difíceis de encarar, mas ignorá-los causa mais dor do que colocar-se a caminho para atravessá-los.
Conta-se que um obstinado observador perguntou para um fundidor de ouro e prata como ele sabia que tanto o ouro e a prata estavam prontos, separados das sujeiras que traziam consigo. O fundidor, então, respondeu ao curioso: “Quando eu me debruço sobre o ouro ou a prata e consigo reconhecer ali o meu próprio rosto, então eles estão separados das impurezas”.
Para que esse processo tenha êxito é preciso que o ouro e a prata passem por um fogo em alto grau. Para nos desintoxicarmos das sujeiras que acumulamos é preciso, muitas vezes, também passar pelo fogo. A obra de Deus também se manifesta na dor. Não é necessário que seja assim, mas na maioria das vezes somente nos tornamos capazes de ouvir nossa voz interior quando passamos pelo fogo. Aqui vale o ditado popular: “o que não aprendemos pelo amor, acabamos aprendemos pela dor”.
A mais comovente confissão de fé que já ouvi foi dita por um dos 33 mineiros ao sair da mina onde ficou soterrado por 70 dias, no deserto do Atacama, no Chile, em 2010. Ele esteve no inferno, ao respirar novamente a luz foi capaz de dizer: “Estive com Deus e o diabo, mas Deus ganhou!”.
Quando nos conectamos com Deus somos empoderados de forças que não são nossas, e que não se acabam com a facilidade com que nosso entusiasmo ou nosso otimismo se esvanece. Como escreve o pesquisador Donald Spoto, citando o filósofo William James, “já foram aventadas muitas razões para que não rezemos, e muitas outras para defender a necessidade da oração. Mas, em todo esse debate, muito pouco se diz sobre o motivo pelo qual rezamos. Rezamos simplesmente porque não podemos deixar de fazê-lo”.
A busca por um relacionamento íntimo com Deus é também expressa na poesia do filósofo Martin Buber: “Se crer em Deus significa poder falar dele na terceira pessoa, então, não creio em Deus. Se acreditar nele significa poder falar com ele, então eu creio em Deus”.