sábado, 12 de janeiro de 2013

Inteligência Espiritual

Sugestão para uma boa leitura: Espiritualidade e finitude - aspectos psicológicos, organização de Dulcinéa da Mata Ribeiro Monteiro, publicado pela Editora Paulus, em 2006.

O texto abaixo é um dos assinados pela Dulcinéa e leva o título: Encontrando Deus: viver in transitus.

"Após viagens feitas à Africa e Novo México, Jung (1975) declara que se convenceu de que idéias de imortalidade são inatas nos povos, e elas foram sendo agrupadas em diferentes religiões. O homem de Neandertal já percebe que pertence a uma realidade maior que o ultrapassa; enterrava os seus mortos com utensílios e comida para ajudá-los na viagem ou na transição da alma. Alguns até eram colocados em posição fetal e pintados com hematita, indicando assim uma possível crença no resnascimento. Eliade (1978), Garaudy (1981) explicitam a presença da dimensão espiritual em monumentos, como as tendas de pedras para proteger os mortos, em incrições mágicas encontradas, desde os primórdios da civilização.

Estudos científicos atuais concluem que, além da inteligência emocional - Q.E., há a inteligência espiritual - Q.S., Zohar e Marshal (2002) assim a definem: "é a inteligência espiritual com que abordamos e solucionamos problemas de sentido e valor, a inteligência com a qual podemos pôr nossos atos e nossa vida em um contexto mais amplo, mais rico, mais gerador de sentido... É a nossa inteligência final".

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

A Palavra transborda das palavras

Procurado de todas as maneiras e meios pelos seres humanos, Deus tem sido, desde sempre, um enigma que há quem queira decifrar. Homens e mulheres, não importa a idade ou a formação, em algum momento irão manifestar a inquietude que Castro Alves colocou no poema Vozes d’África: “Deus! Ó Deus! Onde estás que não respondes? Em que mundo, em qu’estrela tu t’escondes. Embuçado nos céus?”


Se o que habita a nossa alma é a idéia de um Deus severo, um juiz punitivo, o sofrimento trará consigo um sentimento de abandono ainda maior. Quando não temos certeza que pecado poderia ser o causador da desgraça, surge a dor como a de uma criança que recebe um castigo sem entender a razão. Então, podemos clamar com Jó: “Dize-me de que me acusas!” (Jó 10.2).

No Antigo Testamento é comum a ideia de um Deus punitivo e controlador. Mas, essa não é toda a imagem de Deus, ele também, ali é apresentado como redentor – como aquele que ouviu o clamor de seu povo e o libertou da escravidão. Abriu o mar para que o povo perseguido pudesse fugir por terra seca. Deu pão dos céus (maná) quando os hebreus estavam com fome e fez água brotar da rocha quando estavam com sede. E, apesar de tudo isso foi chamado de Senhor dos Exércitos cujo nome sempre foi impronunciável – ao povo hebreu (hoje o povo judeu) ainda é proibido pronunciar o nome de Deus. Neste contexto a doença é relacionada a um castigo vindo dos céus, uma forma de expurgar alguma culpa mesmo que não se saiba qual seja.

No Novo Testamento, em Jesus – Palavra encarnada e atuante – Deus foi além, mostra sua face ao ser humano. O Evangelista João escreve que “ninguém nunca viu Deus. Somente o Filho único, que é Deus e está ao lado do Pai, foi quem nos mostrou quem é Deus” (João 1. 18).

Em Jesus, Deus se faz gente . No Filho, o Pai mostra seu lado mais amoroso a quem não importa saber quem é pecador ou qual pecado foi cometido. Quando, por exemplo, os discípulos quiseram saber quem havia pecado para justificar a cegueira de nascença de um homem, Jesus responde: “Nem ele pecou, nem seus pais...” (João 9.3). Depois tratou de cuidar do cego, o acolheu, fazendo um emplastro com lodo feito da sua saliva e do pó da terra para em seguida convocar o doente: “Vai lavar o rosto no tanque de Siloé” (João 9.6,7). O cego foi ao tanque, lavou seu rosto, lavou seus olhos e voltou a ver.

A teoria do Deus castigador ou vingador cai por terra diante do sofrimento de inocentes. Diante de uma ala de oncologia infantil, por exemplo, vemos que “há dores que ultrapassam infinitamente toda forma de culpa”, como escreve a teóloga alemã Dorothee Sölle.

Mas também a idéia de um Deus amoroso não responde nossas perguntas, ao contrário, joga-nos mais dúvidas: Por que Deus me abandonou nesta minha dor?

É comum ver quem queira fazer de Deus um tapa-buracos quando outros métodos não dão conta de suas angústias. Há quem queira, enquadrá-la em suas crenças, tentando delimitar a Palavra de Deus entre as capas de sua Bíblia. Ali, sim, está a Palavra de Deus. Mas a Palavra transborda das palavras para dentro da vida, para dentro do mundo, para dentro de nós.