sexta-feira, 4 de junho de 2010

Estive aqui...
a natureza se refazendo
Estive aqui...
na cidade de Amarante, em Portugal.
Estive aqui...
na Torre da Igreja do Castelo da cidade Wittenberg
Estive aqui...
em Nürenberg na Alemanha.

Solidão

(texto de Vera Weissheimer)
Ouço a solidão caminhar pela casa. Ela vai abrindo as portas de todos os cômodos. Abre-as uma a uma. Agora já a sinto perto de mim. Mas eu continuarei espantando-a de todas as formas, tomo um copo de água, depois um vinho. Luto com meus pensamentos para que não me abandonem. Estão batendo na porta. Não vou abrir, deve ser ela que anda pela casa com passos firmes e largos espalhando seu cheiro ocre por todos os cantos. A noite já se entrega à madrugada e ainda estou aqui lutando para não ser tomada pelo horror de estar só.
Quando se quer ficar sozinho, escutar uma boa música, tomar um vinho tinto fechando os olhos para reter o cheiro da pessoa amada é uma opção maravilhosa. E, pensando bem, não se está só em momentos assim. Estamos com a outra parte de nós que só conhecemos quando nos entregamos a um apaixonado flerte com o que somos de verdade.
Por outro lado, quando somos surpreendidos com alguém fechando a porta. Alguém entregando a cópia da chave do apartamento que até ali era plural e, dali por diante, será singular apenas, é dor aguda. Dá vontade de afundar a cara no travesseiro e dar o maior grito que os pulmões tiverem fôlego para dar. Merecemos gritar de vez em quando. (Mas também merecemos rir. Sempre!)
Gritar no carro, no banheiro, no travesseiro isso nos recompõe nos salva quando estamos sendo assassinados por nossas banalidades ou por nossas paixões que julgávamos ser amor. O grito exorciza os pulmões, sacode a poeira do cérebro.
Permita-se desembarcar do certo e do programado, daquilo que sempre pensou ser o certo, daquilo que sempre ouviu dizer que era o melhor. Há momentos em que desembarcar é o mais acertado.
E, quando ouvir a solidão rondando a sua vida e bater em sua porta dê um grito bem alto e a afugente. Porque solidão só é boa quando nela podemos marcar um encontro íntimo com nós mesmos.

Um ponto e vírgula

(texto de Vera Weissheimer)
Hoje tomei a decisão. A de colocar um ponto e vírgula na minha vida. É mais do que uma pausa. Sim, um ponto e vírgula porque, segundo as normas gramaticais, este sinal gráfico quer dar a entoação equivalente ao ponto final, mas não quer encerrar o período. Se eu quisesse encerrar o período me suicidaria. O que, definitivamente, não é o caso. Então, creio que colocar um ponto e vírgula possa resolver a minha atual situação. E qual é mesmo a situação em pauta? A de me separar de uma parte de mim. Separar-me dessa mulher que ficou triste demais com o passar desses anos. V
Um amigo, após um cálice de vinho, na tentativa de redimir o ponto final me disse; que só o ponto e vírgula não basta. Algumas vezes, é preciso, disse-me ele, mais do que um ponto e vírgula, o ponto final é necessário. Pediu-me, então, que não temesse o ponto final, já que ele não é tão final assim, e geralmente vem seguido de um novo parágrafo. Então, se entendi bem o meu amigo, pra que o ponto final não seja “FIM” ou o “The End” daqueles filmes americanos das sessões da tarde é preciso que eu comece a escrever um novo parágrafo. Pois bem.
O que sei é que preciso ir em busca de pedaços de mim que ficaram perdidos em algum vão dessa vida. Preciso resgatar meu riso, não que o choro não seja importante, é vital. As lágrimas nos limpam, nos lavam, nos purificam. Mas tenho chorado por demais da conta. Quero dar férias para mim mesma. Preciso encontrar algo que ficou no meio do caminho. Meu riso, minha vontade de fazer poesia, minha coragem de enfrentar os leões, que sempre são tantos. Preciso reencontrar a minha vontade de ficar viva.
Eu preciso encontrar comigo, cuidar de mim, como talvez nunca tenha feito. E foi meu amor que me ensinou a cuidar de mim, quando disse que precisava de mim.
Estou aliviando meus pesos para não afundar. Lembro-me sempre daqueles avisos que são dados nos aviões antes da decolagem, pelos comissários de bordo: “Em caso de emergência cairão máscaras de oxigênio a sua frente. Se tiver uma criança ao seu lado, coloque primeiro a máscara em você para depois colocar a máscara na criança.”
Quase nunca prestamos atenção, mas esses avisos são uma metáfora para a vida. Nós precisamos de cuidados também. Precisamos cuidar de nós mesmos como criaturas preciosas que somos e só assim conseguiremos cuidar dos outros sem que nos falte oxigênio.
Estou indo em busca de oxigênio.
E você como está?

O rasgo

(texto de Vera Weissheimer)
Glorinha chega para a sua primeira sessão de análise. O analista, uma indicação de uma amiga, abre a porta e num sorriso a convida para entrar na sala. Aquele sotaque castelhano era encantador, a cabeleira branca cuidadosamente desalinhada, sempre com aparência de desleixo, mas era puro charme.
Ela entra na sala olha para a poltrona e depois olha para o divã. Não teve dúvidas. Foi até o divã e, então, deitou-se como se sempre tivesse feito aquilo. Olha para o teto e vê um risco que se transforma num rasgo na parede. Uma criatura rasgada, é assim que se sente. Ah! Ela queria encontrar esse rasgo para poder entrar em si mesma e descobrir de onde vinha tanta dor. Enquanto olhava o rasgo na parede pensou que, talvez ensimesmada signifique isso, estar em si mesma, entrar dentro de si mesma. Não falou nada. Descobrira que o silêncio era bom. Não quis falar nada. Não falou nada.

Os casamentos

(texto de Vera Weissheimer)









A pior maneira de manter um casamento  é privando o outro de sua liberdade.
Se você amarrar dois pássaros, eles terão quatro asas, mas nunca conseguirão voar.  (Djeladin Rumi)


As chuvas de março trazem um cheiro de terra molhada, mesmo onde o asfalto já sepultou quase todos os jardins e os playgrounds têm grama artificial. O cheiro é tão convidativo que levanto da cama e no escuro da sala vejo pela janela a cidade sendo lavada. A noite é quebrada por raios vorazes. Depois, novamente, a calma da chuva como o bater calmo do coração do homem que convida você para deitar sobre seu peito para, mais uma vez, refazerem os acordos, para depois desfazê-los e quebrá-los novamente. Afinal, acordos são para isso.


Casamento é um fazer acordos e quebrar acordos firmados por dois apaixonados para depois fazer outros, mais de acordo com a nova fase do amor. O amor tem mais fases que a lua, mais tensões que as mulheres em período menstrual.


Mas a vida fica mais leve e o casamento, essa aliança que você faz com alguém, terá mais sentido se estiver verdadeiramente apaixonado por você mesmo. Isso é obvio demais? Mas também o óbvio precisa ser repetido até fazer sentido. Precisamos nos amar profundamente para amarmos outra pessoa. Do contrário, amamos mal.


Apaixonar-se pela gente é a mais difícil das tarefas. Comece por apaixonar-se pelas suas memórias mais deliciosas. Ninguém pode tirá-las de dentro de você, seus causos, suas risadas mais endiabradas, aqueles momentos em que você teve coragem de desembarcar da tristeza, tudo isso será uma excelente fonte de inspiração em momentos escuros.


Pare de acreditar que o outro será o seu remédio, a sua metade, aquela porção que vai completar o imenso buraco de sua alma. Isso é tarefa grandiosa por demais para jogar assim sem mais nem menos nas mãos de nossos amados e amadas. Seremos sempre frações, mas ainda assim, é possível ter momentos de completude sozinha numa madrugada diante da janela vendo a chuva bater contra o vidro.


Há um rio de forças e de luz que corre ai dentro de você. É preciso entrar nessas águas sem tantos medos. Então, vai encontrar ali o seu ponto de ligação com o divino, o fio invisível que conecta você aos mistérios da vida. Você continuará fração, mas a busca pela plenitude já não estará mais no outro mas em você mesmo, no encontro profundo e íntimo com as partes que ficaram perdidas em algum lugar.


O amor de duas pessoas inteiras, ainda que fracionadas, é mais saudável, haverá mais aconchego, menos exigência, mais respeito e muito mais perdão.


Para ir ao encontro dessas águas que correm em você, não há receita, nem cartilha ou métrica. Mas é preciso aceitar que a maré suba e inunda tudo, que a correnteza derrube, que o barco vire.


Permita-se ancorar em outras margens e as pedras no caminho lhe darão impulso.


Então, apaixone-se sempre de novo por você, pelos seus segredos. Afinal, precisamos de segredos e mistérios, para não sucumbir às banalidades dessa vida e às cobranças dos outros. Apaixone-se sempre por seus pontos fortes mesmo que os pontos fracos insistam em ficar em alto relevo no seu cérebro. Apaixone-se por suas idéias, mesmo que tenham dito que elas não serviam para nada. Apaixone-se pela música que você pode ser para alguém. Apaixone-se por você e será mais feliz com quem estiver ao seu lado.


Fecho a janela, me despeço da chuva e volto para a cama onde dorme meu amor coberto pela madrugada.

Dona Elisa, seus doces e histórias

(texto de Vera Weissheimer)
Sábado passado me permiti sair mais tarde da cama. Comecei abrindo as janelas da casa para abençoá-la com o cheiro de outono maduro. A janela da sala é ampla e fiquei ali me espreguiçando e deixando-me acordar pela manhã nublada, prometendo chuva.
O interfone (essas coisas da vida moderna que já não deixam mais os amigos nos surpreenderem!) me avisa que Dona Elisa quer vir ao meu apartamento.
Semanas atrás, Dona Elisa, uma simpática vizinha que sabe que sou colecionadora de pequenos e grandes causos da vida, havia dito que queria me presentear com uma dessas preciosidades. E lá estava ela, com um cesto cheio de doces, pão-de-mel, geléia de amora e a história escrita numa caligrafia trêmula de uma mão de 82 anos. Como agradecer tamanha generosidade? Quis acarinhá-la; então preparei uma mesa para o nosso café da manhã em minha cozinha e lá ficou ela sentada contando-me de tempos idos, histórias e causos que dão cheiro e gosto à vida.
Preserve suas histórias e causos, me diz sempre Dona Elisa, porque a poesia não escolhe somente os momentos belos de pôr-do-sol ou como esta manhã. A poesia está nas nossas frustrações, nas tristezas, nas perdas, para depois nos ensinar que as dificuldades surgem para nos fazer melhores e mais preparados para a vida.
Dona Elisa voltou para sua casa. E eu fiquei sorvendo essa história que ela me trouxe em meio às geléias.
Era uma vez um riacho de águas limpas e cristalinas que serpenteava montanhas lindíssimas. Em certo ponto de seu percurso, o riacho notou que à sua frente havia um pântano imundo, por onde teria que passar com as suas águas transparentes.
Olhou, então, para Deus e protestou: “Senhor, que castigo! Eu sou um riacho tão límpido, tão formoso, e você me obriga a atravessar um pântano sujo como esse? Como faço agora?”
E Deus respondeu: “Isso depende de sua maneira de encarar o pântano. Se ficar com medo, vai diminuir o ritmo de seu curso, dará voltas e, inevitavelmente, acabará misturando suas águas com as do pântano, o que o tornará igual a ele”.
Se você enfrentar o pântano com velocidade, com força, com decisão e coragem, vai atravessá-lo abrindo caminho em meio à lama. Deixará para trás parte de suas águas, mas vencerá o pântano. Mas o que é perder parte das águas para a tragédia comparado a se perder totalmente no pântano?
Assim é a vida. As pessoas engatinham nas mudanças. Quando ficam assustadas, paralisadas, pesadas, tornam-se tensas e perdem a fluidez e a força. É preciso entrar para valer nos projetos da vida.

Toda mulher precisa de um chapéu vermelho

(Vera Weissheimer)



Brechós têm cheiros de saudade, as roupas têm histórias de perdas, de ganhos, de mortes e separações. Há aqui na cidade um, que fica na Rua Lisboa, rodeado por uma jabuticabeira e um pé de Três Marias que vai se agarrando à parede de tijolo cru até chegar na janela do segundo andar.

Numa quarta-feira, ou talvez, tenha sido uma quinta feira,resolvi entrar lá. Precisava ficar só.

Entre chapéus, echarpes e veludos fiquei olhando a cidade da janela emoldurada pelas Três Marias. Olhei com olhos de um outro tempo. Quando a vida andava em outro ritmo, mais lento. Não se corria. Do canto esquerdo, ao lado da janela, vem um cheiro de cravo destilado por uma vela que queima charmosa sobre a mesinha de imbuia. Um homem de cavanhaque grisalho e olhos de mar profundo, com um cachimbo apagado no canto direito da boca, oferece-me, em silêncio, um cálice de licor de amêndoa. Depois, aponta com o braço esquerdo para um jardim interno onde há uma pequena mesa de ferro com duas cadeiras. No canto à direita de quem entra no jardim, há um frágil pé de romã carregado de frutos maduros, ao lado, uma fonte de água convidando ao silêncio.

Antes de ir até o jardim peguei um chapéu vermelho e uma echarpe lilás, fiquei sentada ali por um bom tempo. Fiquei pensando.

Pensando que o que tenho não me pertence embora faça parte de mim. Tudo o que sou, foi me emprestado, para que eu possa dividir com aqueles que entram em minha vida.

Ninguém, absolutamente ninguém, cruza nosso caminho por acaso e nós não entramos na vida de alguém sem haver alguma razão. Assim, como faço parte desse brechó, desse homem de cavanhaque com seu cachimbo apagado que me deixou ficar em meu silêncio sem querer saber o motivo de minha mudez. Assim, também, como agora, faço parte de você e você de mim. Há muito o que dar e o que receber; há muito o que aprender, com todas as nossas experiências boas, inclusive as ruins, também com aquelas que nos fazem chorar.

Se tentarmos ver as coisas negativas que acontecem conosco como algo que tem a sua razão de ser, já aprenderemos a reclamar menos. Ficar lamentando o que aconteceu só vai cobrir os olhos com vendas pesadas. Quando não conseguimos deixar para trás as mágoas, voltando sempre de novo à elas, metendo o dedo na dor, a ferida vai se tornando maior do que era no início e não vai sarar.

Nem sempre as pessoas nos ferem voluntariamente. Muitas vezes, somos nós que nos sentimos feridos, a pessoa nem mesmo percebeu que nos feriu mortalmente. Nos sentimos decepcionados porque alguém não corresponde às nossas expectativas, mas as expectativas são somente nossas. E, sabemos quais eram as expectativas do outro em questão? Nós, tanto nos decepcionamos, quanto decepcionamos a outros. É mais fácil pensar nas coisas que nos atingem. Quando alguém lhe disser que magoou sem intenção. Acredite! Vai lhe fazer bem, e assim talvez ela poderá entender quando você, sinceramente, disser “foi sem querer”.

Dê de você mesmo o quanto puder! Você sabe, que quando você se for, a única coisa que vai deixar é a lembrança do que foi aqui nessa vida? Seu cheiro será saudade, suas roupas recordarão momentos, causas, perdas e suas histórias. Portanto, seja bom, tente dar sempre os passos necessários. Nunca negue a ajuda que está ao seu alcance. Perdoe. Seja uma bênção. Deus não vem em pessoa para nos abençoar. Ele usa os que estão aqui dispostos a cumprir essa missão. Viva de maneira que, quando você se for, muito de você ainda fique naqueles que tiverem a oportunidade de conhecê-lo.

Lembro ainda hoje, a bênção que foi aquele homem naquela quarta-feira no brechó brindando o meu silêncio com aquele licor. Lembro, como se fosse agora que, depois de algum tempo, talvez tivessem se passado horas, levantei e entreguei o chapéu e a echarpe. Mas ele me disse calmamente:

-- Leve! Toda mulher precisa de um chapéu vermelho e uma echarpe lilás.

Então, fui para a vida. Certa que seria mais feliz com meu chapéu vermelho e minha echarpe lilás.

Saudades...

(texto de Vera Weissheimer)

Escrevo por ter saudades. Saudades que já não são feridas, são espaços que nada no mundo é capaz de preencher. Mesmo que algo ou alguém pudesse preencher eu não iria querer. Porque, quem deixou os espaços era especial de mais. Como disse o trapalhão Dedé, no primeiro programa após a morte de Zacarias, parceiro de trapalhadas:“Zacarias se foi e hoje, para substituí-lo chamamos “Ninguém”. Ele é insubstituível”. Quem poderia substituir quem amamos? Outras pessoas virão, mas elas ocuparão outros espaço.
Sentir saudades é ser alcançado pelo perfume de quem está longe por pouco tempo ou por uma eternidade. É ter saudades sempre no plural...

quarta-feira, 2 de junho de 2010





Frase pintada em várias paredes, muros, viadutos,portas de lojas, telefones públicos na cidade de São Paulo.


Sonho de nós dois

(Vera Cristina Weissheimer)
Uma casa de madeira, uma janela aberta para o leste. Dessas janelas grandes com floreiras e muitas flores coloridas. Sim. É a janela de nosso quarto, com cortinas num amarelo vivo com pequenos girassóis. Lá há uma cama grande com travesseiros de penas de ganso e lençóis de algodão. Cada manhã abriremos a janela e ficaremos deitados como se não tivéssemos que trabalhar. Ali juntos deixando que o sol entre no quarto para nos encher de preguiça. Iremos até o terraço e chamaremos o cachorro que sempre irá despedaçar as flores das floreiras e tu sempre irás reclamar disso e eu sempre vou rir por que nessa hora saberei que estou em casa. A sala? A sala terá dois níveis. Assim que entrar pela porta haverá um tapete de tapeçaria e dois sofás onde faremos amor um dia sim e outro também. No canto direito há uma lareira para que possamos conversar e tomar muitos vinhos. Teremos ali também nossas conversas mais sérias. Depois colocaremos mais lenha na fogueira e ficaremos ali até pegarmos no sono.
Há ao lado da lareira duas poltronas com um abajur bem no meio e ali sempre estarão dois livros, um meu e outro seu, sempre à espera para serem abertos e sentirem seus dedos passando delicadamente sobre cada linha, como se fosse braile. Mas que nada, é a fome que você traz na alma que não se contenta em somente ler com os olhos. Os dedos buscam letra por letra, parece até querer extrair vida de cada linha. E vais interromper a minha leitura para comentar um parágrafo que a encanta e farei de conta que não me incomodo de ter a minha leitura interrompida tantas vezes.
Há no canto oposto à lareira um armário de madeira maciça (acho que o herdamos de sua avó) lá escondemos nossos melhores vinhos. Também aquele que eu trouxe do Chile e que nunca tomamos. O vinho para as nossas noites em que esqueceremos de tudo. E mais uma vez nos prometemos amor eterno. Essa eternidade me assusta, pode durar pouco.
Dois degraus acima há duas mesas uma de frente para a outra. Sim. Trabalharemos juntos um de frente para o outro. Teremos também dois computadores, para não brigarmos por isso. Ah! Mas que bobagem a minha, não brigaremos. Trabalhando juntos poderei olhar teus olhos cor de mar que não sabem mentir para mim, e estão sempre emoldurados de vermelho de tanto chorar ou de tanto rir. Por debaixo das mesas deve haver espaço suficiente para que os meus pés toquem os teus para sentir que estás ali de verdade. Os únicos pezinhos que consigo achar bonitos. Nosso banheiro terá uma banheira e ao lado direito da banheira uma janela que dá para o jardim dos fundos. Tomaremos banho vendo a chuva cair sobre os girassóis que semearemos a cada estação.
A cozinha será grande com um fogão a lenha para que a comida seja sempre feita sem pressa, para que ali haja sempre água quente para um café. Haverá também uma mesa grande perto do fogão para que quando os amigos vierem sintam o calor da lenha estalando no fogão.
Em frente a casa, há um gramado bastante grande e à esquerda de quem entra (não há portão) há uma fileira de surinãs. Essas florescem só no inverno. São árvores que abrem suas copas derramando flores vermelhas estreladas. E também no inverno nosso jardim precisa ter flores. Esse é o meu sonho para nós.



Estive aqui...
Munique tem cantinhos maravilhosos.


Estive aqui...
Lisboa é uma delícia.

“Há portas de abrir e portas de fechar. Há portas de escancarar e portas de trancar. Há portas que abrem para dentro. Há portas que abrem para fora. Cuidado para não confundir umas com as outras.”
Vera Weissheimer



“A vida é generosa e, a cada sala que se vive, descobre-se tantas outras portas.
E a vida enriquece quem se arrisca a abrir novas portas.”
Içami Tiba