quarta-feira, 2 de junho de 2010



Sonho de nós dois

(Vera Cristina Weissheimer)
Uma casa de madeira, uma janela aberta para o leste. Dessas janelas grandes com floreiras e muitas flores coloridas. Sim. É a janela de nosso quarto, com cortinas num amarelo vivo com pequenos girassóis. Lá há uma cama grande com travesseiros de penas de ganso e lençóis de algodão. Cada manhã abriremos a janela e ficaremos deitados como se não tivéssemos que trabalhar. Ali juntos deixando que o sol entre no quarto para nos encher de preguiça. Iremos até o terraço e chamaremos o cachorro que sempre irá despedaçar as flores das floreiras e tu sempre irás reclamar disso e eu sempre vou rir por que nessa hora saberei que estou em casa. A sala? A sala terá dois níveis. Assim que entrar pela porta haverá um tapete de tapeçaria e dois sofás onde faremos amor um dia sim e outro também. No canto direito há uma lareira para que possamos conversar e tomar muitos vinhos. Teremos ali também nossas conversas mais sérias. Depois colocaremos mais lenha na fogueira e ficaremos ali até pegarmos no sono.
Há ao lado da lareira duas poltronas com um abajur bem no meio e ali sempre estarão dois livros, um meu e outro seu, sempre à espera para serem abertos e sentirem seus dedos passando delicadamente sobre cada linha, como se fosse braile. Mas que nada, é a fome que você traz na alma que não se contenta em somente ler com os olhos. Os dedos buscam letra por letra, parece até querer extrair vida de cada linha. E vais interromper a minha leitura para comentar um parágrafo que a encanta e farei de conta que não me incomodo de ter a minha leitura interrompida tantas vezes.
Há no canto oposto à lareira um armário de madeira maciça (acho que o herdamos de sua avó) lá escondemos nossos melhores vinhos. Também aquele que eu trouxe do Chile e que nunca tomamos. O vinho para as nossas noites em que esqueceremos de tudo. E mais uma vez nos prometemos amor eterno. Essa eternidade me assusta, pode durar pouco.
Dois degraus acima há duas mesas uma de frente para a outra. Sim. Trabalharemos juntos um de frente para o outro. Teremos também dois computadores, para não brigarmos por isso. Ah! Mas que bobagem a minha, não brigaremos. Trabalhando juntos poderei olhar teus olhos cor de mar que não sabem mentir para mim, e estão sempre emoldurados de vermelho de tanto chorar ou de tanto rir. Por debaixo das mesas deve haver espaço suficiente para que os meus pés toquem os teus para sentir que estás ali de verdade. Os únicos pezinhos que consigo achar bonitos. Nosso banheiro terá uma banheira e ao lado direito da banheira uma janela que dá para o jardim dos fundos. Tomaremos banho vendo a chuva cair sobre os girassóis que semearemos a cada estação.
A cozinha será grande com um fogão a lenha para que a comida seja sempre feita sem pressa, para que ali haja sempre água quente para um café. Haverá também uma mesa grande perto do fogão para que quando os amigos vierem sintam o calor da lenha estalando no fogão.
Em frente a casa, há um gramado bastante grande e à esquerda de quem entra (não há portão) há uma fileira de surinãs. Essas florescem só no inverno. São árvores que abrem suas copas derramando flores vermelhas estreladas. E também no inverno nosso jardim precisa ter flores. Esse é o meu sonho para nós.

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