sexta-feira, 4 de junho de 2010

Um ponto e vírgula

(texto de Vera Weissheimer)
Hoje tomei a decisão. A de colocar um ponto e vírgula na minha vida. É mais do que uma pausa. Sim, um ponto e vírgula porque, segundo as normas gramaticais, este sinal gráfico quer dar a entoação equivalente ao ponto final, mas não quer encerrar o período. Se eu quisesse encerrar o período me suicidaria. O que, definitivamente, não é o caso. Então, creio que colocar um ponto e vírgula possa resolver a minha atual situação. E qual é mesmo a situação em pauta? A de me separar de uma parte de mim. Separar-me dessa mulher que ficou triste demais com o passar desses anos. V
Um amigo, após um cálice de vinho, na tentativa de redimir o ponto final me disse; que só o ponto e vírgula não basta. Algumas vezes, é preciso, disse-me ele, mais do que um ponto e vírgula, o ponto final é necessário. Pediu-me, então, que não temesse o ponto final, já que ele não é tão final assim, e geralmente vem seguido de um novo parágrafo. Então, se entendi bem o meu amigo, pra que o ponto final não seja “FIM” ou o “The End” daqueles filmes americanos das sessões da tarde é preciso que eu comece a escrever um novo parágrafo. Pois bem.
O que sei é que preciso ir em busca de pedaços de mim que ficaram perdidos em algum vão dessa vida. Preciso resgatar meu riso, não que o choro não seja importante, é vital. As lágrimas nos limpam, nos lavam, nos purificam. Mas tenho chorado por demais da conta. Quero dar férias para mim mesma. Preciso encontrar algo que ficou no meio do caminho. Meu riso, minha vontade de fazer poesia, minha coragem de enfrentar os leões, que sempre são tantos. Preciso reencontrar a minha vontade de ficar viva.
Eu preciso encontrar comigo, cuidar de mim, como talvez nunca tenha feito. E foi meu amor que me ensinou a cuidar de mim, quando disse que precisava de mim.
Estou aliviando meus pesos para não afundar. Lembro-me sempre daqueles avisos que são dados nos aviões antes da decolagem, pelos comissários de bordo: “Em caso de emergência cairão máscaras de oxigênio a sua frente. Se tiver uma criança ao seu lado, coloque primeiro a máscara em você para depois colocar a máscara na criança.”
Quase nunca prestamos atenção, mas esses avisos são uma metáfora para a vida. Nós precisamos de cuidados também. Precisamos cuidar de nós mesmos como criaturas preciosas que somos e só assim conseguiremos cuidar dos outros sem que nos falte oxigênio.
Estou indo em busca de oxigênio.
E você como está?

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