segunda-feira, 12 de novembro de 2012




Médico encontrou tratamento para si mesmo nas flores

Eu sou do tipo de pessoa que não desiste tão facilmente, também acredito que Deus nos ensina a fazer bons dribles nessa vida. Não, não vou falar de futebol! Mas acredito que uma partida de futebol pode nos dar boas lições para a vida. Se, ficamos no banco de reservas, vamos olhar a partida sem pode colocar o pé na bola. Se, somos violentos nas jogadas podemos levar uma rasteira também. É claro, que levamos rasteiras (injustificadas) da vida e de pessoas que gostariam de nos ver no chão. Mas e aí? Vou ficar deitada no chão lamentando a queda ou levantar e seguir no jogo. O poeta britânico Oscar Wilde escreve, acertadamente que, quando estamos na sarjeta, “só alguns de nós olham para as estrelas". Outros olham só para a sarjeta. Porque "Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe", poetiza o escritor irlandês Oscar Wilde.

Sou uma catadora de histórias por onde ando, salas de espera de aeroporto, de rodoviária, ou de dentista... Numa dessas, encontrei o Almanaque de Cultura Popular (ano 14, de setembro 2012,n. 161). A história da revista que quero compartilhar com vocês é sobre alguém que não desistiu do jogo, driblou paus e pedras. Não esqueceu que a vida pode ter sua beleza.

“Médico encontrou tratamento para si mesmo nas flores”, este é o título do texto que quero compartilhar. Aproveitem!

“Dia quente em São Paulo. Na banca de flores número 1, o atendente filosofa enquanto monta o arranjo: “No calor, quem mais sofre é a criança, velho e flor”. Dalmar Gusmão Gil tem 48 anos, 17 deles trabalhando na traumatologia de um hospital, outros dois como vendedor de flores em frente ao cemitério do Araçá. Com experiência nas duas vocações, faz um balanço: “Cerca de 80% dos cuidados são iguais, com flor e com gente”. O carioca sempre gostou de comprar buquês para dar de presente (...). Conheceu sua esposa quando se formava em medicina na Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto. O casal viveu junto por 30 anos, até que ela não resistiu a um tumor. A princípio, dobrar turnos no trabalho parecia uma boa solução para a solidão de Dalmar. Isso se não tivesse adquirido “uma espécie de paranóia” – ficou com a impressão de que absorveria as doenças dos pacientes. Foi aí que descobriu as flores.
Como o pessoal das bancas costumava dizer que ele era bom na conversa, arriscou inverter o papel de cliente para vendedor. Deu certo. Ele gosta de lidar com os compradores e preparar os arranjos. Dois anos depois, sente-se pronto para a traumatologia do Hospital do Mandaqui. Com uma convicção a mais: “Flores são a visão divina. É a maneira de Deus expressar sentimento pela gente.”

∽∽

Sempre há uma maneira de redescobrir a vida. Tenha dias abençoados e uma semana cheia de vontade de fazer bons dribles. Siga em frente! Há um Deus maravilhoso caminhando com você.



terça-feira, 30 de outubro de 2012

Nenhum sofrimento vai durar para sempre

(texto de Vera Cristina Weissheimer)



Sofrimento é o que nos desorganiza, nos tira o chão. Tempestades que arrasam tudo. E, depois de tudo só nos resta juntar tijolo por tijolo, caco por caco e reconstruir. Como fizeram as mulheres dos escombros (Trümmerfrauen) na Alemanha após a Segunda Grande Guerra – separavam os tijolos dos escombros para reconstruir vidas, casas, cidades. Era comum encontrar nesses grupos, até mesmo, mulheres de 80 anos.

A reconstrução é possível, não sobre os escombros, negando a dor, varrendo o sofrimento embaixo de algum tapete. Ao contrário, é preciso aceitar a destruição, para poder, a partir dos escombros, encontrar matéria prima para uma reconstrução. Chega o momento em que é preciso olhar o que restou e ali vislumbrar a vida possível.

“A vida de cada um pode ser escrita pelas perdas que vai tendo ao longo dos tempos. Reconciliar-se com essa dura e traumática realidade é indispensável para viver mais ou menos bem”, escreve o psicanalista Abrão Slavutzky. Para ele, é preciso uma reconciliação com o passado, com sonhos e pesadelos, os amores desfeitos, resistir às loucuras humanas, pois só assim é possível abrir-se para o amanhã.

Slavutzki tem razão, as noites estão prenhes de boa novas que vem com o amanhecer. Mas ninguém sabe o dia que nascerá. Em nossos tempos de depressão, tristeza, doença, escuridão há um germe de onde poderá nascer um novo sentido, um novo dia, outros significados para a vida. Mas o germe poderá também ficar para sempre na possibilidade do que poderia ter sido. Quem, passa pelo sofrimento sem encontrar esse germe, sairá um tanto vazio de sua estada no deserto. Como se tivesse ficado para sempre na madrugada, antevendo o dia, sem conseguir sair da escuridão e nunca chegar ao amanhecer. Quem, no entanto,viver esse encontro sairá de seu deserto, de sua noite, tendo encontrado algo único, o seu oásis, o seu amanhecer.

Nenhum sofrimento vai durar para sempre. Eu sei! A alegria também não. Para Vinícius de Moraes o “sofrimento é o intervalo entre duas alegrias”. Assim é a vida.

 
Doutor, por que estou doente?


(texto de Vera Cristina Weissheimer)




- Doutor, por que estou doente?
- A válvula do seu coração tem um vazamento.
- É, mas por quê eu?
- Espere, vou chamar o vigário.

O médico Bert Keizer começa o seu livro, Dançando com a morte, com o diálogo acima. Há perguntas para as quais a medicina não tem resposta. Há perguntas para as quais ninguém tem resposta. Assim é a vida. O vigário também não terá as respostas, mas ele terá palavras de conforto. Porque, quando a ciência não tem mais o que dizer, a fé tem palavras que podem consolar, enguer e colocar a caminho novamente. O famoso físico Albert Einstein escreveu que “a ciência sem religião é paralítica, a religião sem a ciência é cega”.

Quando não sabemos mais nada, mas ainda somos capazes de crer, podemos ainda assim dizer: “vamos orar”, e colocar em oração nosso não saber, nossa falta, nossa fragilidade. Assumimos, assim, que sempre chega um momento em que precisamos recorrer a um Poder que é Superior e transcende nossas limitações e finitude. “Não desanimes ante uma batalha perdida. Resta-nos sempre a força da oração de onde nascem a esperança e um espírito de resoluta resistência”; aconselhava Martim Lutero.

Quando a ciência chega ao seu limite, permanece a fé. Uma frase escrita num muro de um cemitério, na zona leste da cidade de São Paulo, dizia: “Onde o ser humano põe um ponto final, Deus põe dois pontos”. Se imaginamos a morte como um dar de cara com um muro, como um fim em si mesmo, é muito triste. Contudo, se imaginamos e cremos que a morte é uma passagem para estarmos nas mãos amorosas de Deus, a morte passa a ser uma porta que abre, não para o nada, mas para um estar com o Criador. Quando a criatura retorna para o Criador. Quando filho, filha, e Pai se encontram num abraço eterno. É quando acordamos nos braços aconchegantes do Pai e Mãe de infinita bondade, que desde sempre nos esperavam. Coisas para as quais não tem comprovação científica, e aí somente podemos dizer como o personagem Chicó do filme Auto da Compadecida , de Ariano Suassuna. Chicó contava histórias e diante do estranhamento do ouvinte ia logo dizendo: “Não sei, só sei que foi assim”. Ninguém tem como afirmar como vai ser após a morte, mas podemos crer. A fé não é da ordem do que se discute. Já bem dizia Agostinho: “A vida da Fé não é um problema para ser resolvido mas um mistério para ser vivido".

Crer é ter evidências sem evidências. Jesus andou sobre as águas. Deus falou com Moisés através de um arbusto em chamas. Abriu no Mar Vermelho uma passagem para que o povo pudesse passar. Fez seu filho nascer de uma mulher. Não buscamos comprovação para isso, simplesmente cremos que são relatos de pessoas de uma fé tamanha que é capaz de transcender séculos e chegar até nós. E dizemos com o personagem Chicó: “só sei que foi assim”. Para Gottfried Brakemeier, os milagres exigem um outro tipo de olhar que “proíbe confundir tais testemunhos de fé com depoimentos objetivos e científicos. Cabe buscar o sentido profundo por trás das narrativas e saber distinguir entre linguagem histórica e religiosa”. Ver ou não ver um milagre é também uma perspectiva. Para o físico Albert Einstein “há duas formas para viver sua vida: uma é acreditar que não existe milagre. A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre”.



Por que comigo?

(texto de Vera Cristina Weissheimer)

“Mês após mês só tenho tido desilusões, e as minhas noites têm sido cheias de aflição. Essas noites são compridas; eu me canso de me virar na cama até de madrugada e fico perguntando: ‘Será que já é hora de levantar?’ O meu corpo está coberto de bichos e de cascas de feridas; a minha pele racha, e dela escorre pus. Os meus dias passam mais depressa do que a lançadeira do tecelão e vão embora sem deixar esperança. Lembra, ó Deus, que a minha vida é apenas um sopro; os meus olhos nunca mais verão a felicidade. Por isso, não posso ficar calado. Estou aflito, tenho de falar, preciso me queixar, pois o meu coração está cheio de amargura. Eu prefiro ser estrangulado; é melhor morrer do que viver neste meu corpo. Detesto a vida; não quero mais viver. Deixa-me em paz, pois a minha vida não vale nada. Por que nos vigias todos os dias e a todo instante nos fazes passar por provas? Quando deixarás de olhar para mim, a fim de que eu tenha um momento de sossego?” (Jó 7.3-7, 11,15,16,18).

É o lamento de alguém machucado, derrubado pela vida. Poderia ser eu ou você, mas este é Jó. Viu seus filhos morrerem, perdeu suas propriedades, e sua saúde foi deteriorando. Além de todas as dores e perdas pesa sobre ele a suspeita dos amigos e da esposa: “Você deve ter feito algo de muito grave para que tudo isso esteja te acontecendo”. Este Jó desolado clama: “Estou cansado de viver. Vou me desabafar e falar da amargura que tenho no coração. Ó Deus, não me condenes!” (Jó 10.1-2a). “Por que os infelizes continuam vendo a luz?”; queixa-se Jó (3. 20). A desgraça é tanta que ele amaldiçoa o dia em que nasceu. Um homem arruinado, massacrado pela vida, que confessa sua fé, se revolta, chora sua dor e questiona Deus sobre seu triste destino. Jó toca em nossa fragilidade. Johannes Brahms chegou a compor uma peça só com as perguntas de Jó.

Queremos entender por que estamos passando pelo que estamos passando. Quando o sofrimento é demais há quem chegue a querer que tudo acabe de uma vez. Como Moisés, quando sentiu que o trabalho de liderar os hebreus era pesado demais, pediu: “se vais me tratar desse jeito, tem pena de mim e mata-me! Se gostas de mim, não deixes que eu continue sofrendo desse jeito!” (Números 11.15). Como o profeta Elias que, acuado – com as ameaças de morte da rainha Jezabel –, andou o dia inteiro pelo deserto até que “sentou-se na sombra de uma árvore e teve vontade de morrer. Então, orou assim: Já chega, ó Deus Eterno! Acaba agora com a minha vida!” (1 Reis 19.4). Até mesmo o poeta Carlos Drummond de Andrade desejou morrer. Quando soube da morte de sua filha Maria Julieta, pediu para a médica que lhe dá a notícia: “me receita, por favor, um enfarto fulminante.”

Uma paciente com leucemia, sentada de lado na cama faz um sinal com a mão dando pequenos tapinhas sobre o lençol. Quer que eu sente ao seu lado. Ela encosta sua cabeça nua em meu ombro. Já não tem os longos cachos ruivos de que tanto se orgulhava. Entrelaçamos as mãos para uma oração onde coubesse dor e esperança. De repente, ela interrompe a oração entre soluços: “Jesus espera um pouco mais. Não é hora de eu ir. Jesus espera! Jesus espera!” No dia seguinte, um sábado, recebo a ligação do hospital. O pedido de Lia não havia sido atendido.


Sofrimento é a dor de Jó, desolado, abandonado e doente. É também o medo de Elias e o estresse de Moisés. É o luto de Drummond e a vontade de Lia, de ficar um pouco mais.








sábado, 20 de outubro de 2012

Você acha que as pessoas se tornam melhores depois de sair da UTI?


"Eu não sou um sujeito místico, nem religioso. Mas algumas vezes, acontecem coisas que fogem do meu entendimento, não encontro explicação". É neste cenário que se desenrola a vida do médico cardiologista Elias Knobel, 61 anos, 33 deles dedicados à chefia do Centro de Terapia Intensiva do Hospital Israelita Albert Einstein, que ajudou a fundar em 1972. Homem de fala precisa e pontual, como sua superlotada agenda requer, Knobel é catedrático no assunto. Aprendeu como ninguém a lidar com o trabalho, e não só do ponto de vista estritamente científico. Pois a UTI, como costuma dizer, é um microcosmo da aventura humana. Onde caem as máscaras.


Você acha que as pessoas se tornam melhores depois de sair da UTI?
Ah claro, sem dúvidas. Tive um paciente que era chamado de “o terror da Receita Federal”. Um cara duro, difícil de lidar. Ele tinha um coração duro como rocha antes da ameaça de doença. Depois, no pós-operatório, era outra pessoa. Ficou leve e humilde equiparando-se aos outros mortais. Nesses longos anos de atividade, acompanhando não só doentes graves, mas também seus familiares, percebo que há momentos em que todos os problemas do dia-a-dia se tornam supérfluos e são colocados em terceiro plano. Tudo se esquece: mágoas, ressentimentos, antagonismos e problemas financeiros... É quando o bem maior está em jogo: a vida. Pena que esses sentimentos sejam tênues e rapidamente se desvaneçam.

Você acredita em Deus?

Eu não sou um sujeito místico, nem religioso. Mas algumas vezes, acontecem coisas que fogem do meu entendimento, não encontro explicação.


A religião, a fé, elas ajudam na recuperação?

Confesso que já vi muita gente que por todos os indicadores e índices já estaria morta e acaba sobrevivendo. Ainda que eu tenha me tornado cético quanto a milagres, acredito na força do pensamento e na crença das pessoas – a fé move montanhas, mesmo.


Vocês encorajam a presença de religiosos?

Sempre incentivamos. Padres, pastores, rabinos, muçulmanos, já fiz sólidas amizades com gente de todos os credos. O mais interessante é que para mim todos parecem ter a mesma religião, sem divergências ou discrepâncias, pois trazem sempre a mesma mensagem de paz e harmonia. A combinação de recursos modernos com a fé do paciente e da família ajuda.

(Parte da entrevista feita pelos jornalistas Morris Kachani e Flávia Martinelli, em Outubro de 2005 e publicado no site “NoMínimo")











A fé à luz da psicanálise





A fé "uma certeza fundamental, apesar das incertezas paciais. A fé não é da ordem do que se discute -- ter o que respirar ou não, isso não se discute. creio que esse estado de fé é o efeito da adesão do coração a uma 'revelação'."

(do livro A fé à luz da Psicanálise, de Françoise Dolto e Gérard Sévérin)

O poder invisível da fé (2)

Um estudo da Santa Casa de Porto Alegre mostra que 70% dos pacientes gostariam que o médico falasse sobre religião com eles, mas apenas 15% dos médicos o fazem. Os médicos não recebem treinamento apropriado sobre como fazer a abordagem religiosa. eles não sabem trazer o assunto à tona, nem como responder a perguntas do paciente sobre religião. São poucas as faculdades de medicina que tratam do tema. A medicina é considerada uma ciência e, historicamente, há uma grande divisão entre religião e ciência. A religião é muito mais vaga e nebulosa do que a medicina e, por isso, continua não levando muito crédito. Médicos tendem a ser menos religiosos do que a população em geral, então eles não conhecem muito o potencial da religião.
(Trecho da entrevista com o psiquiatra Harold Koenig, Páginas Amarelas, Revista Veja, 10 de outubro, 2012)

O poder invisível da fé


"A religiosidade põe o paciente em outro patamar de tratamento. pacientes enfartados que seguem uma religião têm menos complicações após a cirurgia, ficam menos tempo internados..."

"Os pacientes que lidam melhor com suas doenças, perdas e incapacidades, ficam menos depressivos. os religiosos suportam melhor suas limitações porque a religião dá significado a essas circunstâncias difíceis. O sofrimento adquire um propósito. O indivíduo não sofre sem razão nem se sente sozinho."


Entrevista com Harold Koenig, nas páginas amarelas da Revista Veja, dia 10 de outubro de 2012

A caminhada espiritual de cada paciente

Alguns dirão que no final das contas cada pessoa terá que fazer seu próprio caminho. Sim. Mas, é bem melhor percorrer esse caminho tendo a companhia de alguém, mesmo que seja uma caminhada feita em silêncio, um amparado no braço do outro. Também na última caminhada é importante ter uma companhia, o portão, no entanto, terá de ser atravessado sozinho.
Na Bíblia, no livro de 2 Reis 20. 1-11, no Antigo Testamento, é contada a história do rei Ezequias que recebe o diagnóstico de sua doença da boca do profeta Isaías, porta-voz do próprio Deus: “Ponha as suas coisas em ordem porque você não vai sarar. Apronte-se para morrer.” O rei vira-se para a parede e chora e ora: “Lembra-te, Senhor, que tenho te servido com fidelidade e com o coração e sempre fiz aquilo que querias que eu fizesse.”
Perdidos num vale de sombras, desejamos ouvir portadores de boas novas como o profeta Isaías que, nem chega a atravessar o pátio da casa do rei quando recebe a segunda tarefa por parte de Deus: “Volte e diga a Ezequias, o governador do meu povo: Eu, o Senhor, Deus do seu antepassado Davi, escutei a sua oração e vi a suas lágrimas. Eu vou curá-lo, e daqui há três dias você irá ao Templo. Vou deixar que você viva mais 15 anos.” Depois do profeta transmitir as palavras de Deus ao rei, pediu que uma pasta de figos fosse preparada e colocada sobre sua úlcera, o rei ficou curado.

Desejamos com toda a força de nosso coração, que alguma boa notícia nos seja trazida, para que possamos contar ao doente, mas ela não chega. Esperamos que da boca de algum médico, ou médica, saia alguma palavra de conforto ou esperança, ela não é dita. Como é possível amparar o abatido, o abalado, o doente que recebeu os piores diagnósticos e prognósticos? Quando as próprias forças e ânimos começam a dar sinais de também nos faltar,  não nos cheguam os portadores das boas novas e a pasta de figos não é a solução, então só nos resta admitir nossa impotência diante das impossibilidades e nos deixar cair nas mãos de Deus. E essas mãos não são pequenas.

 (Vera Cristina Weissheimer)




















A solidão no Getsêmani

Alguns pacientes tentam ter uma conversa séria sobre seu estado de saúde, suas angústias existenciais, seu sofrimento, sua dor, seu medo do que há de vir e sua solidão naquela cama de hospital. Mas na maioria dos casos, as tentativas por uma conversa caem no vazio. Nem equipe médica, nem família conseguem realmente ouvi-lo. A família, apavorada, tenta esconder sua tristeza e escamotear o sofrimento dizendo: “Você vai ficar bom!” Mas o paciente sabe que, muito provavelmente, não ficará “bom”.

A pessoa doente, quando o médico não lhe conta, parece receber sinais do próprio corpo ou de algum anjo que Deus envia para lhe adiantar que é chegada a hora, como o profeta Isaías foi encarregado de avisar o rei Ezequias. E ciente de sua condição e querendo poupar a quem ama e não ser o causador de mais preocupações, pede com voz firme: “Poupe minha família, doutor, eu sei que meu estado de saúde é delicado, e que posso morrer. Não conte a eles a verdade.” Assim cada um – família e doente – se enclausura em sua solidão particular. Começa, então, um dolorido faz de conta.

O doente quer e precisa uma companhia verdadeira da mesma forma que Jesus, quando sentiu que sua morte estava próxima, não quis ficar só, pediu a seus discípulos que fossem com ele a um lugar chamado Getsêmani: “Venham comigo. Enquanto eu vou ali orar.” Levando consigo três de seus discípulos foi até o lugar onde queria silenciar e fazer a sua oração. “Aí ele começou a sentir uma grande tristeza e aflição e disse a eles: A tristeza que estou sentindo é tão grande, que é capaz de me matar. Fiquem aqui vigiando comigo. Ele foi um pouco mais adiante, ajoelhou-se, encostou o rosto no chão e orou: Meu Pai, se é possível, afaste de mim este cálice de sofrimento!”; de vinho tinto de sangue, como canta Chico Buarque em “Cálice”. Deixamos nosso doente sozinho em seu Getsêmani, porque também a nós a tristeza está matando e não conseguimos ficar vigilantes porque estamos cansados e a verdade, nesses casos, pode ser dura demais para ser suportada, crua de mais para ser digerida.

(Vera Cristina Weissheimer)

A solidão de quem está incuravelmente doente





“Um dos grandes sofrimentos dos que estão morrendo é perceber que não há ninguém que os acompanhe. Eles falam sobre a morte e os outros logo desconversam. ‘Bobagem, você logo estará bom...’ E eles então se calam, mergulham no silêncio e na solidão, para não incomodar os vivos. Só lhes resta caminhar sozinhos até o fim.”; diz Rubem Alves. Quando todos parecem faltar e o mundo parece estar reduzido ao tamanho da cama de hospital só resta pedir com as palavras do Salmo 71: “Quando me faltarem as forças, não me desampares.” As família querem poupar o doente, imaginam que não vai suportar a verdade sobre a doença. Não se dão conta que ele já sabe e está suportando sozinho.

São angústias palpáveis e agudas que também encontramos na voz da protagonista Olímpia, do livro Quero minha mãe, de Adélia Prado. Olímpia é uma mulher que sofre de um câncer que tenta puxá-la para o desconhecido, ela luta contra, naturalmente, e sustenta-se em sua fé cristã: “Olímpia, me cumprimentou a doutora ao telefone, rindo, profissional, quase não admirada. Alguém te operou antes de mim? Não devolvo o seu útero, mas nenhum vestígio de câncer encontramos. Vai ser feliz, mulher. Tal qual implorei. ...de quando abrirem minha barriga, Virgem Maria, se admirem os doutores do fenômeno: em meio às vísceras sãs, a coisa seca sobrando, seca de não se reproduzir nela vida alguma. Tal qual implorei.”

Uma mulher de uns 40 anos me procura em meu plantão: “Tenho o amor de meu marido e de minha família, mas tenho, também, essa solidão que mais parece um bicho que se instalou aqui dentro de mim, mas tão dentro de mim, que parece um berne que vai crescendo e abrindo um buraco cada vez maior, alimentando-se da minha carne cada dia mais enfraquecida e doente.” Ela sabe que é amada, mas sente-se profundamente só. Quem a ama tem receio de tocar no assunto da doença. Luta heroicamente para viver, apesar de um teimoso câncer querer se alastrar por seu corpo.
(Vera Cristina Weissheimer)


quarta-feira, 12 de setembro de 2012


Diretivas antecipadas: instrumento que assegura a vontade de morrer dignamente

Tiago Vieira Bomtempo

Resumo: Nesta pesquisa realizou-se um breve estudo acerca das diretivas antecipadas, instrumento que pode assegurar a vontade do paciente terminal em morrer com dignidade. Para tanto, foi tratado o conceito e origem das diretivas antecipadas; as situações nas quais este documento pode ser utilizado; e análise do projeto de lei n.524/2009, o qual legaliza as diretivas antecipadas.


Sumário: 1. Origem e conceito de diretivas antecipadas; 2. Relação médico-paciente e diretivas antecipadas nas situações de terminalidade da vida; 3. O Projeto de Lei n. 524/2009.
1 ORIGEM E CONCEITO DE DIRETIVAS ANTECIPADAS

Frente aos grandes avanços na Medicina, principalmente com o desenvolvimento de tratamentos que visam prolongar o evento morte, discute-se acerca do direito do paciente em manifestar a sua vontade em relação a estes em situações de incapacidade.
Corrobora-se, assim, a possibilidade de se constituir um instrumento que conste o interesse ou não do indivíduo em se submeter a terapêuticas médicas, o qual tenha validade caso o paciente esteja incapaz de manifestar a sua vontade.
Neste sentido, surgiu as Diretivas Antecipadas, que se vinculam a possibilidade do paciente manifestar previamente sua vontade acerca de quais tratamentos médicos quer ou não se submeter caso futuramente estiver em estado de incapacidade.
As Diretivas Antecipadas, denominadas de Advences Directives, estão previstas na PSDA – The Patient Self-Determination Act ou Ato de Auto-Determinação do Paciente, lei aprovada pelo Congresso dos Estados Unidos que entrou em vigor a partir de 1º de dezembro de 1991.
Esta lei reconhece a recusa do tratamento médico, reafirmando a autonomia do paciente, em que da sua entrada nos centros de saúde, serão registradas as objeções e opções de tratamento em caso de incapacidade superveniente do doente. Estas manifestações de vontade, diretivas antecipadas, são realizadas de três formas: o living will (testamento em vida), documento o qual o paciente dispõe em vida os tratamentos ou a recusa destes quando estiver em estado de inconsciência; o durable power of attorney for health care (poder duradouro do representante para cuidados com a saúde), documento no qual, por meio de um mandato, se estabelece um representante para decidir e tomar providências em relação ao paciente; e o advanced core medical directive (diretiva do centro médico avançado), que consiste em um documento mais completo, direcionado ao paciente terminal, que reúne as disposições do testamento em vida e do mandato duradouro, ou seja, é a união dos outros dois documentos.
O termo living will, cuja tradução literal para o português corresponde a “testamento vital”, surgiu nos EUA, em 1967. O testamento vital prevê os procedimentos médicos aos quais o paciente não gostaria de se submeter, se algum dia estiver incapaz de manifestar sua vontade, seja por estar inconsciente ou por estar em um estado terminal, do qual poderá decorrer a incapacidade.
Entrementes, critica-se o termo “testamento vital”, devido ao sentido de testamento no Brasil. Visto que este instrumento trata-se de um ato unilateral de vontade, com eficácia pós morte, não seria a nomenclatura correta, considerando que o testamento vital possui eficácia em vida.
Adota-se, portanto, a nomenclatura “declaração prévia de vontade”, sugerida por Luciana Dadalto Penalva (2009).

2 RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE E DIRETIVAS ANTECIPADAS NAS SITUAÇÕES DE TERMINALIDADE DA VIDA

A relação médico-paciente consiste precipuamente em um contrato de prestação de serviços, no qual são estabelecidos direitos e obrigações entre as partes, em que o profissional médico, via de regra, utilizará de todos os recursos e meios necessários para restabelecer a saúde do paciente que requer os seus cuidados.
Ocorre que esta relação vai além de um vínculo contratual, pois os deveres do médico para com o paciente devem ser sempre pautados na ética e no respeito à pessoa, já que o objeto do contrato é o próprio paciente.
Neste contexto, aplica-se a Bioética na relação médico-paciente, a qual surge intrinsecamente ligada ao conhecimento biológico, “(...) buscando o conhecimento a partir do sistema de valores” (SÁ; NAVES, 2009, p.2).

Hoje, de paciente passou-se à cliente, aquele que sabe e exige os seus direitos, que participa na tomada de decisões junto ao profissional médico.

Como nem sempre avanço e evolução estão ligados somente a benefícios, com este rápido desenvolvimento da tecnologia na área médica, surgiu uma desproporção entre os conhecimentos técnicos adquiridos e os aspectos humanísticos e éticos na formação do profissional médico.

Elio Sgreccia (1996, p.111) trata desta desproporção, ao explicar o problema da falta da humanização da medicina. Segundo o autor, há quem entenda essa expressão como a importância da relação intersubjetiva entre o paciente e o pessoal da saúde diante da invasão da tecnologia ou da massificação dos hospitais.

Todavia, deve-se entender que o dever de salvar vidas não é salvá-la a qualquer custo, mas garantir a dignidade do doente, tratando-o como pessoa.

Neste sentido, as diretivas antecipadas entram na relação médico-paciente como meio para que a autonomia privada do paciente, antes de um possível estado de incapacidade, possa ser exercida, assegurando a sua dignidade e autodeterminação. Ainda, direcionará o profissional médico e sua equipe para que seja empregado o tratamento e cuidados previamente escolhidos pelo próprio paciente.

Deve-se ressaltar que as diretivas antecipadas servirão de meio hábil a resguardar o médico de eventual responsabilização ao fazer ou não fazer uso dos tratamentos e cuidados dispensados pela escolha prévia do paciente ainda capaz.
Nesta seara, o Novo Código de Ética Médica, a Resolução n. 1.931 de 24 de setembro de 2009, em vigor desde 13 de Abril de 2010, trouxe significativas inovações, principalmente em alguns artigos, onde se subentende a possibilidade da formalização e validade das diretivas antecipadas entre médico e paciente, conforme a seguir:
“Capítulo I
XXI - No processo de tomada de decisões profissionais, de acordo com seus ditames de consciência e as previsões legais, o médico aceitará as escolhas de seus pacientes, relativas aos procedimentos diagnósticos e terapêuticos por eles expressos, desde que adequadas ao caso e cientificamente reconhecidas. (grifo nosso) [...]

É vedado ao médico

Art. 24. Deixar de garantir ao paciente o exercício do direito de decidir livremente sobre sua pessoa ou seu bem-estar, bem como exercer sua autoridade para limitá-lo. (grifo nosso) [...]

Art. 41. Abreviar a vida do paciente, ainda que a pedido deste ou de seu representante legal.
Parágrafo único. Nos casos de doença incurável e terminal, deve o médico oferecer todos os cuidados paliativos disponíveis sem empreender ações diagnósticas ou terapêuticas inúteis ou obstinadas, levando sempre em consideração a vontade expressa do paciente ou, na sua impossibilidade, a de seu representante legal. (grifo meu) [...]” (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, 2009).

Vislumbra-se, portanto, ante o exposto, da aplicabilidade das diretivas antecipadas na relação médico-paciente, tornando este último partícipe da tomada de decisões acerca da sua própria saúde, pois ninguém melhor que o próprio paciente-cliente, sujeito e detentor de autonomia, para decidir acerca de qual tratamento ou não deseja submeter-se em um possível estado de incapacidade.
Para tanto, devido o paciente não possuir conhecimento técnico-científico, faz-se mister que o médico lhe fornece e esclareça todas informações para que possa tomar a decisão mais adequada, por meio do consentimento informado livre e esclarecido[1], o qual consiste na exposição pelo médico de todas as terapêuticas possíveis a que o paciente possa se submeter, informando-lhe os riscos e benefícios em linguagem acessível, para que o paciente livremente possa escolher se quer ou não se submeter aquele determinado tratamento. O consentimento informado deve ser, via de regra, escrito, para a segurança de ambas as partes.
Neste sentido, não se deve entender que o dever de salvar vidas não é salvá-la a qualquer custo, mas garantir a dignidade do doente, tratando-o como pessoa, e não como instrumento de uma terapêutica inútil e que cause mais dores e sofrimentos ao paciente terminal, configurando a distanásia.
A Constituição da República de 1988 nos revela que a dignidade da pessoa humana é um dos fundamentos do nosso Estado. Desta forma, na medida em que a estes doentes não tem mais chance de cura, e para evitar tratamentos que lhe causem mais dores e sofrimentos que somente prolongam a morte, deve ser-lhes dado o direito de morrer com dignidade[2].
É importante ressaltar que em um determinado momento o paciente em estado terminal ficará inconsciente ou incapaz de manifestar sua vontade. Nesse ponto, destaca-se a importância das Diretivas Antecipadas como instrumento pelo qual o indivíduo poderá declarar previamente sua vontade quanto à submissão ou não a determinados tratamentos médicos que vão somente prolongar a sua morte causando-lhe mais dores e sofrimentos inúteis, facultando-lhe, portanto, em optar por um morrer digno.

3 O PROJETO DE LEI N. 524/2009

O projeto de lei do Senado brasileiro n. 524/2009, de autoria do senador Gerson Camata, visa dispor sobre os direitos em fase terminal de doença. Este documento tem objetivo de regulamentar a prática da ortotanásia, via devido processo legislativo, ampliando a participação do Parlamento brasileiro no assunto.
O referido projeto basicamente possui os mesmos dispositivos da Resolução n. 1.805/2006 do CFM, porém de forma mais detalhada.
No que tange às diretivas antecipadas o projeto de lei em seu artigo 6º dispõe que:
“Art. 6º Se houver manifestação favorável da pessoa em fase terminal de doença ou, na impossibilidade de que ela se manifeste em razão das condições a que se refere o § 1º do art. 5º, da sua família ou do seu representante legal, é permitida, respeitado o disposto no § 2º, a limitação ou a suspensão, pelo médico assistente, de procedimentos desproporcionais ou extraordinários destinados a prolongar artificialmente a vida.

§ 1º Na hipótese de impossibilidade superveniente de manifestação de vontade do paciente e caso este tenha, anteriormente, enquanto lúcido, se pronunciado contrariamente à limitação e suspensão de procedimentos de que trata o caput, deverá ser respeitada tal manifestação.

§ 2º. A limitação ou a suspensão a que se refere o caput dever ser fundamentada e registrada no prontuário do paciente e será submetida a análise médica revisora, definida em regulamento”. (SENADO, 2009).
Assim, pelo disposto no artigo 6º, §1º, caso o paciente tenha se manifestado contrário à limitação ou suspensão do tratamento antes de se tornar incapaz, esta vontade deverá ser respeitada. O próprio artigo 6º trata da autonomia privada do paciente, retratando a diretiva antecipada.
Por conseguinte, entende-se que, caso o paciente tenha se pronunciado previamente em relação à recusa aos procedimentos extraordinários ou desproporcionais, tal pronunciamento deve ser considerado como válido. Desse modo, caso o paciente, em estado terminal e inconsciente tenha manifestado anteriormente sua rejeição a um determinado procedimento, sua vontade deverá ser respeitada.

Referências
BORGES, Roxana Cardoso Brasileiro Borges. Direito de morrer de morrer dignamente: eutanásia, ortotanásia, consentimento informado, testamento vital, análise constitucional e penal e direito comparado. In:SANTOS, Maria Celeste Cordeiro Leite. Biodireito: ciência da vida, os novos desafios. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2001. p.283-305.

BRASIL. Senado Federal. PLS-PROJETO DE LEI DO SENADO, Nº 524 de 2009. Senado, 25 de novembro de 2009. Disponível em:

. Acesso em: 20 mar.2010.

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Resolução n.1.805/2006. Brasília: CFM, 2006. Disponível em: . Acesso em: 30 ago. 2009.

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Resolução n.1.931/2009. Brasília: CFM, 2009. Disponível em: . Acesso em: 20 Abr. 2010.

PENALVA, Luciana Dadalto. Declaração prévia de vontade do paciente terminal. 2009 181 f. Dissertação (Mestrado) - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Programa de Pós-Graduação em Direito.

SÁ, Maria de Fátima Freire. NAVES, Bruno Torquato de Oliveira. Manual de Biodireito. Belo Horizonte: Del Rey, 2009. 347p.

SGRECCIA, Elio. Manual de bioética : volume 1 : fundamentos e ética biomédica. São Paulo: Loyola, 1996.



Notas:

[1] O consentimento esclarecido é um direito do paciente e um dever do médico, previsto no cap. IV, art. 22 do Código de Ética Médica. Ademais, é uma garantia constitucional, exercido pelo direito à informação, prevista no artigo 5º, inciso XIV da Constituição de 1988.

[2] [...] O direito de morrer dignamente é reivindicação por vários direitos, como a dignidade da pessoa, a liberdade, a autonomia, a consciência, refere-se ao desejo de se ter uma morte humana, sem o prolongamento da agonia por parte de um tratamento inútil. Isso não se confunde com o direito de morrer. Esse tem sido reivindicado como sinônimo de eutanásia ou de auxílio ao suicídio, que são intervenções que causam ou antecipam a morte (BORGES, 2001, p. 284-285).

Informações Sobre o Autor

Tiago Vieira Bomtempo
Mestrando em Direito Privado do Programa de Pós-Graduação em Direito da PUC Minas. Especialista em Direito Público pelo Instituto de Educação Continuada, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Brasil. Membro da Comissão de Bioética e Biodireito da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Estado de Minas Gerais. Investigador do Instituto de Investigação Científica Constituição e Processo (Brasil). Biotécnico


Informações Bibliográficas BOMTEMPO, Tiago Vieira. Diretivas antecipadas: instrumento que assegura a vontade de morrer dignamente. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XV, n. 98, mar 2012. Disponível em: . Acesso em set 2012.

O Âmbito Jurídico não se responsabiliza, nem de forma individual, nem de forma solidária, pelas opiniões, idéias e conceitos emitidos nos textos, por serem de inteira responsabilidade de seu(s) autor(es).


Informações Bibliográficas

BOMTEMPO, Tiago Vieira. Diretivas antecipadas: instrumento que assegura a vontade de morrer dignamente. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XV, n. 98, mar 2012. Disponível em: <

http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php


quinta-feira, 12 de julho de 2012

Quero ser como um bom chocolate

“... sacerdotes e levitas lhe perguntaram: Quem és tu? Ele confessou e não negou; confessou: Eu não sou o Cristo.” (Evangelho de João 1.19b-20)

Hoje recebi um chocolate de presente é daqueles que não se come, se degusta. Estou tomando um café com leite e passando os dedos nos farelos que sobraram na embalagem do chocolate. Essa experiência quase mística com o chocolate – sei que alguns me entenderão – me fez ler o texto do Evangelho, citado acima, não com os olhos, mas com o paladar. No texto, João (o Batista) - que imagino ser alguém um tanto empoeirado já que andava pelos desertos – é interrogado por sacerdotes e levitas, quanto à sua identidade: “Quem és tu?” Ele sabia quem era, sabia seu lugar no mundo. “Não sou o Cristo”, responde ele. Quando disse que havia lido o texto com o paladar, foi porque senti o texto me convocando:

Quem é você? Não é se você é gordo ou magro, alto ou baixo. Mas quem é você? Eu desejo ser como um chocolate, não um chocolate qualquer, mas como um bom chocolate, desses que derretem na boca, nos faz fechar os olhos como crianças que se lambuzam de alegria. “Ser” de tal forma que eu possa marcar de sabor a vida de quem passar por mim, de quem vive ou trabalha comigo. Mas para “ser” com sabor, eu preciso saber quem “sou”. E quem sou? Quem é você que está lendo esta meditação? Você tem sabor? Sua vida tem sabor?

João, o evangelista, foi de grande humildade, mas ele sabia quem era e sabia o sabor que trazia em sua pregação. Era aquele que estava preparando o caminho.


Desejo um caminho de cheiros e sabores que convidem você para a Vida e para nunca fugir de quem você é de verdade. E, para SER, é preciso CORAGEM, como aconselha o título de um livro que recomendo: “A Coragem de Ser” de Paul Tillich.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Faça Contao! Importe-se!


“Amou daquela vez como se fosse a última.
Beijou sua mulher como se fosse a última.
E cada filho seu como se fosse o único.
E atravessou a rua com seu passo tímido.”
(Chico Buarque)




Entre o vai-e-vem de gente e carros, na semana passada, um jovem pulou do viaduto próximo ao hospital, hoje, mais uma vez, alguém “flutuou no ar como se fosse um pássaro... Morreu na contramão atrapalhando o tráfego”, como canta Chico Buarque.

Um suicídio a cada semana? Isso deve nos inquietar. O que houve? Quem era? Que dor foi tamanha que já não era suportável?
Faça contato. Importe-se! Olhe bem para seu colega, preste atenção em seu olhar. Preste atenção em seus filhos, seu companheiro ou companheira. Há dores que as pessoas não contam e uma atenção, um gesto de solidariedade, de carinho, pode fazer a diferença na vida de uma pessoa. No livro “As bênçãos de meu avô”, a médica americana Rachel Naomi Remen, escreve “Grandes bênçãos vem em pequenas embalagens.” Perguntar para a pessoa como ela está e realmente parar para ouvir o que ela tem para dizer, pode ser uma bênção curativa. Abraçar o colega de trabalho, dizer um bom dia, olhar nos olhos para que realmente perceba que está se importando com ele. Quando não sabe o que dizer, estar junto é sempre a melhor coisa a fazer.
Nosso “Bom dia”, costuma ser tão rápido e desatencioso que nem ouvimos a resposta. Diferente fazem os indianos. Estes cumprimentam-se com “Namastê”, que quer dizer: “vejo a centelha divina dentro de você”. Os judeus, por exemplo, quando se encontram, cumprimentam-se com “Shalom”, que é um desejo de saúde total. Também significa, “a paz do Deus que habita em mim seja sobre você”. O termo iídiche: Gut shabbes. O equivalente para os árabes é o cumprimeto Assalamu Aleikum.
Então, da próxuima vez que disser “Bom dia”,
Importe-se verdadeiramente com aquela pessoa que você está cumprimentando - espere pela resposta.
Isso pode fazer a diferença!



sexta-feira, 15 de junho de 2012

Fé, amor e gentileza...

“Talvez a fé, a esperança e o amor não resolvam  tudo e nem todos os nossos problemas. 
Mas a vida sempre terá valido mais a pena se tivermos tido a sabedoria de ter fé e esperança e a coragem de amar.” (Vera Cristina Weissheimer)


“O Perfume”, um romance do escritor Patrick Süskind, conta a vida de Jean-Baptiste, que nasce num mau-cheiroso mercado de peixes e cresce tendo um olfato extraordinariamente apurado, mas ele mesmo não possui cheiro próprio. Por causa de seu estranho dom decidiu guardar cheiros de todas as espécies. Acabou por tornar-se perfumista desejando criar o perfume Absoluto. Não contarei o enredo todo por que vai perder a graça. Mas tenho pensado sobre a necessidade de termos, talvez não o Perfume Absoluto, mas mais perfume do que mau-cheiro em nossos dias. Não é só o mau cheiro do Rio Tietê ou do Pinheiros que me faz pensar em perfumar a cidade. Há odores muito mais estranhos que estão corrompendo vidas: a falta de gentileza, de educação, de consideração, de atenção. A falta de amor e de perdão. Esses são fedores que corrompem e adoecem a humanidade. Mas a GENTILEZA pode aproximar, o PERDÃO pode curar e o AMOR pode salvar. Que Deus que é AMOR possa transformar mentes, corações, instituições e relações para vivermos tempos mais gentis.



Sugestão de oração:

Tu que és Amor, toca corações e mentes para que relações possam ser transformadas, que o mau cheiro do mundo possa dar lugar a perfumes como perdão, gentileza, amor, presença, carinho, confiança... capacita-nos a sermos verdadeiramente irmãos e irmãs, onde um novo perfume possa se fazer sentir. Amém

Voto de bênção




“O Senhor esteja ao teu lado como teu grande amigo e companheiro de jornada;

O Senhor esteja acima de ti, velando por ti e te abençoando;

O Senhor esteja abaixo de ti, calçando os teus pés, firmando os teus passos;

O Senhor esteja às tuas costas, guardando-te completamente de pessoas desleais;

O Senhor esteja à tua frente, como luz que ilumina a tua caminhada;

O Senhor esteja dentro de ti, dando-te força, coragem, fé e vontade de viver;

O Senhor esteja ao teu redor, envolvendo-te completamente com o seu amor.”

Superando o medo




“Nosso medo mais profundo não é que sejamos inadequados. Nosso medo mais profundo é que sejamos poderosos demais. É nossa sabedoria, não nossa ignorância, o que mais nos apavora.
Perguntamo-nos: ‘Quem sou eu para ser brilhante, belo, talentoso, fabuloso?’ Na verdade, por que você não seria? Você é um filho de Deus. Seu medo não serve ao mundo. Não há nada de iluminado em se diminuir para que outras pessoas não se sintam inseguras perto de você. Nascemos para expressar a glória de Deus que há em nós. Ela não está em apenas alguns de nós; está em todas as pessoas. E quando deixamos que essa nossa luz brilhe, inconscientemente permitimos que outras pessoas façam o mesmo. Quando nos libertamos de nosso medo, nossa presença automaticamente liberta as outras pessoas.”
(Nelson Mandela)


segunda-feira, 26 de março de 2012

Espiritualidade é não se conformar com as injustiças... (Tributo a Domitila Barrios de Chungara)

Si me dejan hablar:
morreu Domilita Barrios de Chungara


Nancy Cardoso Pereira/Sria de Educação do Rio Grande do Sul



Domilita Barrios de Chungara, que foi uma das mais importantes ativistas da Bolívia, faleceu no dia 7 de março em Cochabamba, na casa humilde em que viveu toda a sua vida. Domitila tinha 75 anos e morreu de câncer no pulmão. Ela foi a principal líder das donas de casa da mina de estanho Siglo XX que no final dos anos 70 fizeram uma greve de fome de dez dias e obrigaram a temida ditadura do general Hugo Banzer a voltar atrás e libertar quase uma centena de trabalhadores mineiros, presos por lutarem por melhores salários. Dessa luta surgiu o Comitê de Donas de Casa da Mina Siglo XX e projetou a figura de Domitila em todo o mundo. Desde então, cumpriu um papel de destaque nas lutas pelos direitos das mulheres e participou como representante das trabalhadoras na Tribuna do Ano Internacional da Mulher reunida no México em 1975. Liderava as mulheres das minas na luta pelo controle do abastecimento das chamadas “pulperías”, os armazéns nos quais os mineiros compravam os alimentos. Domitila também ficou conhecida por falar na poderosa rede de rádios mineiras, chamando os trabalhadores e trabalhadoras a lutar por uma vida digna e contra os temidos coronéis e generais que dominavam o país.
Domitila nasceu na mina Siglo XX e foi criada em Pulacayo, lugar que ficou conhecido porque aí, na Revolução de 1952, na Bolívia, ficaram conhecidas as importantes teses trotskistas que chamavam os trabalhadores a organizar um governo operário e camponês como única alternativa para salvar o país da destruição provocada pelo capitalismo e o imperialismo. Até hoje, as lutas dos homens e mulheres trabalhadoras da Bolívia e de toda a América Latina demonstram que as famosas Teses de Pulacayo guardam sua total atualidade. Em 2005 Domitila denunciou a burguesia como uma classe “brutal, mentirosa e ladrona” e chamou os pobres a fazerem uma revolução porque “as injustiças não vão durar para sempre”. Também nesse mesmo ano ela saudou a vitória de Evo Morales e do MAS, mas colocou em dúvida seu caráter “revolucionário”.
O livro de Moema Viezzer, “Si me dejan hablar”, é uma importante fonte para se conhecer melhor a vida e as idéias de Domitila. Como Moema “la dejó hablar”, Domitila “rasgou o verbo”. Aqui vão algumas de suas opiniões: “Cedo aprendi que ao trabalhador não dão nenhuma comodidade. Que se vire sozinho. E pronto. No meu caso, por exemplo, trabalha meu marido, trabalho eu, faço meus filhos trabalharem, assim somos vários trabalhando para manter a casa. E mesmo assim ainda dizem que as mulheres não fazem nada, porque não dão dinheiro em casa, que só o marido trabalha porque ele recebe um salário. Apesar de o Estado não reconhecer o trabalho que fazemos em casa, dele se beneficia o país e os governos, porque por esse trabalho não recebemos nenhum pagamento.
“Nós, mulheres, fomos criadas desde o berço com a idéia de que a mulher foi feita somente para a cozinha e para cuidar das crianças, que é incapaz de fazer tarefas importantes, e não se pode permitir que se meta em política. Mas a necessidade nos fez mudar de vida.
“Nossa posição não é igual a das feministas. A nossa libertação consiste primeiramente em conseguir que nosso país seja liberado para sempre da opressão das grandes potências capitalistas e que possamos formar um governo da classe trabalhadora, incluindo nós, mas mulheres. Aí então as leis, a educação, tudo será feito de acordo com as necessidades do povo trabalhador. Então, sim, vamos ter mais condições de chegar a uma liberação completa, também e nossa condição de mulheres”. (Si me dejan hablar…)

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Os que esperam no Senhor

"Os que esperam no Senhor renovam as suas forças, sobem como águia para os montes, correm e não se cansam, caminham e não se fatigam." Isaías 40.31


Um paciente, internado por causa de anos de alcoolismo, passando a mão na região da barriga me disse: "Tenho um buraco enorme aqui que sempre tentei preencher, mas no dia seguinte lá estava ele, aberto e cada vez maior e insaciável."
Não basta afastar-se do que causa dependência, é preciso encontrar um alimento que seja capaz de preencher "esses buracos" existenciais e emocionais com novas e diferentes cores, sabores, prazeres e alegrias.


Só por hoje, lhe desejo a Paz e a Coragem necessárias para que consega o seu intento de se recuperar.

Só por hoje vou lembrar que sou feliz

Só Por Hoje


(Legião Urbana)

Só por hoje eu não quero mais chorar.
Só por hoje eu espero conseguir.
Aceitar o que passou o que virá.
Só por hoje vou me lembrar que sou feliz.

Hoje já sei que sou tudo que preciso ser
Não preciso me desculpar e nem te convencer.
O mundo é radical.
Não sei onde estou indo.
Só sei que não estou perdido.
Aprendi a viver um dia de cada vez.

Só por hoje eu não vou me machucar.
Só por hoje eu não quero me esquecer.
Que há algumas pouco vinte quatro horas.
Quase joguei a minha vida inteira fora

Não não não não.
Viver é uma dádiva fatal!
No fim das contas ninguém sai vivo daqui mas -
Vamos com calma !

Só por hoje eu não quero mais chorar.
Só por hoje eu não vou me destruir.
Posso até ficar triste se eu quiser

É só por hoje, ao menos isso eu aprendi