terça-feira, 30 de outubro de 2012

Doutor, por que estou doente?


(texto de Vera Cristina Weissheimer)




- Doutor, por que estou doente?
- A válvula do seu coração tem um vazamento.
- É, mas por quê eu?
- Espere, vou chamar o vigário.

O médico Bert Keizer começa o seu livro, Dançando com a morte, com o diálogo acima. Há perguntas para as quais a medicina não tem resposta. Há perguntas para as quais ninguém tem resposta. Assim é a vida. O vigário também não terá as respostas, mas ele terá palavras de conforto. Porque, quando a ciência não tem mais o que dizer, a fé tem palavras que podem consolar, enguer e colocar a caminho novamente. O famoso físico Albert Einstein escreveu que “a ciência sem religião é paralítica, a religião sem a ciência é cega”.

Quando não sabemos mais nada, mas ainda somos capazes de crer, podemos ainda assim dizer: “vamos orar”, e colocar em oração nosso não saber, nossa falta, nossa fragilidade. Assumimos, assim, que sempre chega um momento em que precisamos recorrer a um Poder que é Superior e transcende nossas limitações e finitude. “Não desanimes ante uma batalha perdida. Resta-nos sempre a força da oração de onde nascem a esperança e um espírito de resoluta resistência”; aconselhava Martim Lutero.

Quando a ciência chega ao seu limite, permanece a fé. Uma frase escrita num muro de um cemitério, na zona leste da cidade de São Paulo, dizia: “Onde o ser humano põe um ponto final, Deus põe dois pontos”. Se imaginamos a morte como um dar de cara com um muro, como um fim em si mesmo, é muito triste. Contudo, se imaginamos e cremos que a morte é uma passagem para estarmos nas mãos amorosas de Deus, a morte passa a ser uma porta que abre, não para o nada, mas para um estar com o Criador. Quando a criatura retorna para o Criador. Quando filho, filha, e Pai se encontram num abraço eterno. É quando acordamos nos braços aconchegantes do Pai e Mãe de infinita bondade, que desde sempre nos esperavam. Coisas para as quais não tem comprovação científica, e aí somente podemos dizer como o personagem Chicó do filme Auto da Compadecida , de Ariano Suassuna. Chicó contava histórias e diante do estranhamento do ouvinte ia logo dizendo: “Não sei, só sei que foi assim”. Ninguém tem como afirmar como vai ser após a morte, mas podemos crer. A fé não é da ordem do que se discute. Já bem dizia Agostinho: “A vida da Fé não é um problema para ser resolvido mas um mistério para ser vivido".

Crer é ter evidências sem evidências. Jesus andou sobre as águas. Deus falou com Moisés através de um arbusto em chamas. Abriu no Mar Vermelho uma passagem para que o povo pudesse passar. Fez seu filho nascer de uma mulher. Não buscamos comprovação para isso, simplesmente cremos que são relatos de pessoas de uma fé tamanha que é capaz de transcender séculos e chegar até nós. E dizemos com o personagem Chicó: “só sei que foi assim”. Para Gottfried Brakemeier, os milagres exigem um outro tipo de olhar que “proíbe confundir tais testemunhos de fé com depoimentos objetivos e científicos. Cabe buscar o sentido profundo por trás das narrativas e saber distinguir entre linguagem histórica e religiosa”. Ver ou não ver um milagre é também uma perspectiva. Para o físico Albert Einstein “há duas formas para viver sua vida: uma é acreditar que não existe milagre. A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre”.



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