sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

De onde viemos?


Meu sobrinho, durante uma dessas idas ao cemitério para levar flores, pediu para ver a foto do “ta-ta-ta-ta-taravô”. Fui mostrando o túmulo dos avós maternos, dos bisavós, dos tataravós. Mas ele não sossegou. E insistiu: “e o tatatatatataravô?”.  Depois de algum tempo emendou: “Quero saber de onde eu vim.” Em geral, falamos pouco de nossos antepassados. De vez em quando, tirar o pó daquela caixa de fotos e rememorar com as crianças as histórias ajuda a criar um sentimento de pertença: pertenço a um lugar, a uma família, a uma história. Uma colega de faculdade participou de um intercâmbio com uma faculdade em Moçambique, na África. Os colegas moçambicanos estranharam quando a brasileira não soube dizer quem eram seus ancestrais. Envergonhada por não saber muito de sua história, na volta para Brasil, começou a investigar sua árvore genealógica. Faça um exercício de tentar lembrar o máximo possível de sua genealogia e veja até onde consegue chegar. O próprio Deus se apresenta, em muitos momentos, a partir da história vivida com seu povo: “Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó...” (Êxodo 3.6).  Nós somos, em parte, fruto de nosso passado, mas como ele irá influenciar nossa trajetória isso é, unicamente, escolha nossa. No momento que conhecemos nossa história podemos fazer opções de como ela pode contribuir para nosso presente. Nosso passado pode ser uma bela plataforma para nos lançamos em belíssimos voos.
Que, em 2014 nossos caminhos sejam abençoados, se tivermos que retroceder, algumas vezes, para depois recomeçarmos com mais força e vontade.  Que assim seja!

Quando lhe faltarem palavras para uma oração, faça dessa oração da escritora Clarice Lispector, a sua oração:
Alivia a minha alma, faze com que eu sinta que Tua mão está dada à minha, faze com que eu sinta que a morte não existe porque na verdade já estamos na eternidade, faze com que eu sinta que amar é não morrer, que a entrega de si mesmo não significa a morte, faze com que eu sinta uma alegria modesta e diária, faze com que eu não Te indague demais, porque a resposta seria tão misteriosa quanto a pergunta, faze com que me lembre de que também não há explicação porque um filho quer o beijo de sua mãe e no entanto ele quer e no entanto o beijo é perfeito, faze com que eu receba o mundo sem receio, pois para esse mundo incompreensível eu fui criada e eu mesma também incompreensível, então é que há uma conexão entre esse mistério do mundo e o nosso, mas essa conexão não é clara para nós enquanto quisermos entendê-la, abençoa-me para que eu viva com alegria o pão que eu como, o sono que eu durmo, faze com que eu tenha caridade por mim mesma pois senão não poderei sentir que Deus me amou, faze com que eu perca o pudor de desejar que na hora de minha morte haja uma mão humana para apertar a minha. Amém.”
(do livro: “Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres”. Rio de Janeiro. 1998) 

Desejo a todos e todas, bons caminhos, boas memórias, bons começos e recomeços.

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