(texto de Vera
Weissheimer)
Ontem Jesus desceu a Terra. Como? Bem, Ele é Jesus, tem lá seus
jeitos. Pensou que o melhor lugar para se inteirar das coisas por aqui era visitar
uma universidade. Mas lá não foi aceito, não tinha qualificação. Foi até um
mosteiro, mas não escutaram as suas batidas no imenso portão de madeira.
Entrou em igrejas de todos os tipos e jeitos, mas não foi notado. Estavam ocupados demais em teologias ou disputas de poder. Em um hospital chegou a ser admitido como ajudante de serviços gerais, mas como conversava com os pacientes, lhes falava de amor e de coisas belas. Foi demitido, lhe disseram que não sabia reconhecer o seu lugar.
Com sede e fome foi caminhando por uma grande e movimentada avenida. Viu um mercado com uma grande fachada: “Supermercado Ágape". Com esse nome, com certeza, seria acolhido. Também de lá foi escorraçado, não tinha dinheiro para pagar. Ele ainda argumentou: “na refeição ágape todos são convidados e todos se fartam”. Saiu de lá entristecido sem entender o que estava acontecendo. Seus pés doíam, estava descalço. Seu joelho estava machucado, havia tropeçado num buraco da calçada. Para desviar da chuva fina procurou abrigo embaixo de um viaduto. Estava exausto. Depois de algum tempo percebeu que a caixa de papelão ao seu lado se mexia. Debaixo dela saiu um homem que logo foi pegando intimidade: “Homem do céu! O dia tá feio!”
Jesus sorriu em seu coração, achando graça da expressão: “Homem do
céu!”. Perguntou ao mais novo amigo, onde era possível beber água. “Tenho sede”,
disse Jesus com a língua já colando no céu da boca. Logo foi apresentado a um
cano de PVC que improvisava uma bica d’água num muro. Ali, Jesus molhou se
todo, tamanha a vontade com que bebeu da água. Viu que outras pessoas vinham para
banhar-se e lavar as suas roupas. Quando voltou para perto do homem das caixas
percebeu, que de um buraco acima dele, de dentro do viaduto, saia uma criança carregando
um bichinho de pelúcia tão sujo quanto as paredes cheias de fuligem. Em seguida,
vinha uma mulher, esgueirando-se pelo buraco. Ela foi ajeitando as pedras em
círculo e fez um fogo. Numa velha e torta panela logo começaram a borbulhar
um pouco de arroz e algumas salsichas. Era o que haviam conseguido comprar
vendendo latinhas. O homem abriu uma garrafinha que chamou de barrigudinha*, ofereceu a Jesus um brinde e o convidou para o
almoço. Ele, vendo que havia pouca comida, disse que era melhor deixar para as
crianças. A mulher foi logo se fazendo de ofendida: “Aqui ninguém faz
cerimônia, onde comem quatro, comem cinco... E o senhor não vai me fazer essa
desfeita". Jesus aceitou o convite e o brinde. Ao beber da barrigudinha achou que era meio forte
aquela bebida. Fechou os olhos e engoliu, aquilo foi descendo e abrindo o
peito. Quando o arroz estava pronto, um gostoso cheiro de gente reunida foi se
espalhando pelo viaduto. Foram se aproximando homens, mulheres, crianças
e cachorros. E todos puderam comer do arroz com salsicha e ainda sobrou para os
dias seguintes. Com sede e fome foi caminhando por uma grande e movimentada avenida. Viu um mercado com uma grande fachada: “Supermercado Ágape". Com esse nome, com certeza, seria acolhido. Também de lá foi escorraçado, não tinha dinheiro para pagar. Ele ainda argumentou: “na refeição ágape todos são convidados e todos se fartam”. Saiu de lá entristecido sem entender o que estava acontecendo. Seus pés doíam, estava descalço. Seu joelho estava machucado, havia tropeçado num buraco da calçada. Para desviar da chuva fina procurou abrigo embaixo de um viaduto. Estava exausto. Depois de algum tempo percebeu que a caixa de papelão ao seu lado se mexia. Debaixo dela saiu um homem que logo foi pegando intimidade: “Homem do céu! O dia tá feio!”
*Barrigudinha
é como a população em situação de rua, na cidade de São Paulo, chama uma
pequena garrafinha de cachaça.
Um comentário:
Quando temos os olhos e o coração abertos, temos uma chance de encontrar Deus dentro e fora de nós
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